MEDITANDO NO TRABALHO MISSIONARIO

Depois disto ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Então disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim.

Isaías 6:8

CONFISSÃO DE FÉ BATISTA DE 1644


(Publicada originalmente no ano de 1646) Traduzido do espanhol por Laylton Coelho de Melo.

JOHN GILL- TEÓLOGO BATISTA DO SEC. XVII
Uma confissão de fé de sete congregações (igrejas) de Cristo em Londres, que comumente são chamadas, de forma injustificada, Anabatistas. Esta publicação é para a reivindicação da verdade e informação para os que desconhecem a confissão. Ao mesmo tempo é para contestar as recriminações infundadas que frequentemente nos fazem dos púlpitos e na literatura.
Impresso em Londres, no ano do nosso Senhor, 1646.

I.
O SENHOR nosso Deus é um só Deus, cuja existência reside em si mesmo; cuja natureza não pode ser compreendida por ninguém senão por ele mesmo; ele é o único que tem imortalidade, e mora numa luz a qual nenhum homem pode se aproximar; ele é em si santíssimo, em todos os aspectos infinito: em grandeza, sabedoria, poder e amor; é misericordioso e magnânimo, paciente e abundante em amabilidade e em verdade; é o que dá a existência, o vigor e a preservação de vida a todas as suas criaturas.

II.
No ser infinito e divino há somente o Pai, o Verbo e o Espírito Santo; cada um tem toda a essência divina, mas a mesma não está dividida. Todos eles são sem princípio, e por isso compõem um só Deus; o qual não deve ser dividido em sua natureza ou em sua existência, mas que deve ser conhecido por seus vários atributos relativos.

III.
Deus decretou em si mesmo, antes que o mundo existisse, todas as coisas, sejam coisas necessárias, acidentais ou voluntárias, com todas as suas circunstâncias, para produzir, dispor e trazer à existência tudo segundo o conselho da sua própria vontade, e para sua própria glória; (mas sem ser o autor culpável do pecado) no qual é manifestada sua sabedoria na disposição de todas as coisas, o que nunca muda, e em seu poder e constância para efetivar seu decreto: Deus antes da fundação do mundo, predestinou a alguns homens para a vida eterna, por meio de Jesus Cristo, para o louvor e glória da sua graça; havendo destinado e abandonado os demais em seu pecado para sua justa condenação, e para o louvor de seu justo veredicto.

IV.
No princípio Deus fez todas as coisas muito boas; criou o homem segundo sua própria imagem, cheio com todas as perfeições de seu caráter, e livre de todo pecado; mas o homem não durou muito nesta honra. Satanás usou a engenhosidade da serpente para persuadir primeiro a Eva e logo por meio dela seduziu também a Adão; o qual sem ser coagido por ninguém, ao comer o fruto proibido, desobedeceu ao mandamento de Deus e caiu do estado no qual foi criado. Portanto, a morte veio sobre toda a sua descendência; que agora são procriados em pecado, e por natureza são filhos da ira, servos do pecado, súditos da morte, e sofrem outras adversidades neste mundo, e isto para sempre a menos que o Senhor Jesus Cristo os libere.

V.
Deus, em seu infinito poder e sabedoria, dispõe todas as coisas para o fim ao qual foram criadas; que nem o bem e nem o mal lhes sobrevém pela casualidade, ou sem sua providência; e, seja o que for que aconteça aos eleitos, é por Sua determinação, para Sua glória e para o bem deles.

VI.
Uma vez que todos os eleitos são amados com um amor eterno, são, portanto, redimidos, vivificados e salvos, mas não por eles mesmos, nem por suas próprias obras, para que ninguém tenha do que se orgulhar; pois são salvos só e totalmente por Deus, por sua graça e misericórdia, por meio de Jesus Cristo, o qual é feito por Deus, para nós, sabedoria, justiça, santificação e redenção; e em tudo isto aquele que se regozija possa regozijar-se no Senhor.

VII.
A vida eterna é conhecer a Ele, o único e verdadeiro Deus, e a Jesus Cristo a quem Ele enviou. Mas por outro lado, aqueles que não conhecem a Deus e não obedecem ao evangelho de Jesus Cristo, Ele os recompensará com a vingança.

VIII.
A regra do conhecimento, a fé, a obediência, a adoração de Deus, na qual está escrita toda a obrigação do homem, não é a lei dos homens, ou suas tradições, senão a palavra de Deus contida nas Sagradas Escrituras; nas quais está plenamente escrito tudo o que necessitamos saber, crer e praticar; elas são a única regra de santidade e obediência para todos os santos, em todos os tempos, em todos os lugares.

IX.
O Senhor Jesus Cristo, de quem Moisés e os profetas escreveram, que foi pregado pelos apóstolos, é o Filho de Deus, a plenitude de sua glória etc., por quem ele fez o mundo; é quem sustenta e governa todas as coisas que ele criou; é quem também, quando chegou a plenitude dos tempos, foi feito de uma mulher, da tribo de Judá, da semente de Abraão e Davi; isto é, da virgem Maria, quando o Espírito desceu sobre ela, quando o poder do Altíssimo lhe amparou; e Ele foi tentado como nós somos tentados, mas sem pecar.

X.
Jesus Cristo foi feito o Mediador de um pacto novo e perpétuo da Graça, entre Deus e o homem, sendo para sempre, de maneira perfeita e plena, o Profeta, Sacerdote e Rei da Igreja de Deus.

XI.
Ele foi designado por Deus desde a eternidade para este ofício; e quanto a sua humanidade, desde o útero foi chamado, separado e investido com todos os dons necessários, havendo Deus dispensado sem medida o seu Espírito.

XII.
Quanto a seu ofício como Mediador, a Escritura nos mostra o chamado de Cristo para este ofício; porque ninguém toma esta honra para si mesmo. Ele foi chamado por Deus, como foi Arão, sendo este chamado uma ação de Deus, pela qual uma promessa especial foi feita, onde Ele ordenou seu filho para este ofício. E esta promessa é que Cristo deveria fazer um sacrifício pelo pecado; que Ele veria sua semente e prolongaria seus dias, e a vontade do Senhor prosperaria em sua mão; tudo isto sendo da graça absoluta e livre de Deus para os eleitos, e sem nenhuma condição prevista neles para que pudessem conseguí-la.

XIII.
Quanto a este ofício de mediador, isto é, o de ser Profeta, Sacerdote e Rei da Igreja de Deus, este ofício é somente de Cristo, que nem em parte, e muito menos em sua totalidade, pode ser transferido para outra pessoa.

XIV.
Este ofício para o qual Jesus foi chamado, é de três aspectos: Profeta, Sacerdote e Rei, e o fato de que são três é necessário: por causa de nossa ignorância precisamos dele como profeta; quanto ao nosso distanciamento de Deus, precisamos de seu ofício de Sacerdote para nos reconciliar com Ele; e quanto a nossa adversidade e inabilidade para retornarmos a Deus, precisamos de seu ofício de Rei para nos convencer, subjugar, atrair e preservar para seu reino celestial.

XV.
Em relação a profecia de Cristo, é por este ofício que Ele revelou a vontade de Deus, tudo o que é necessário que seus servos devam saber e obedecer. E por isto, Ele é chamado não tão somente Profeta e Mestre, e o Apóstolo de nossa confissão, e o Anjo [mensageiro] do pacto, senão de que assim mesmo, é a sabedoria de Deus, em quem estão escondidos todos os tesouros de sabedoria e ciência, que sempre segue revelando a mesma verdade do Evangelho a seu povo.

XVI.
Era imprescindível que Ele fosse Deus e homem para poder ser um Profeta em todo sentido da palavra, porque si não fosse Deus então não poderia compreender perfeitamente a vontade de Deus; e si não fosse feito homem, não poderia esclarecer a vontade de Deus aos homens em sua própria pessoa.

NOTA
Que Cristo é Deus está expresso esplendidamente nas Escrituras:
- É chamado o Deus Todo-poderoso (Isaías 9.6).
- Que o Verbo era Deus (João 1.1).
- Cristo, o qual é Deus que reina sobre tudo (Romanos 9.5).
- Deus manifestado em carne (1ª Timóteo 3.16).
- É o mesmo Deus (1ª João 5.20).
- É o primeiro (Apocalipse 1.8).
- Dá a existência a todas as coisas, e sem Ele nada foi feito (João 1.2).
- Perdoa o pecado (Mateus 9.6).
- Era antes de Abraão (João 8.58).
- Era e é e para sempre será o mesmo (Hebreus 13.8).
- Sempre está com os seus até o fim do mundo (Mateus 28.20).
- E tudo isto não poderia ser dito de Cristo se Ele não fosse Deus. E ao Filho o Pai tem dito que seu trono está estabelecido para sempre (Hebreus 1.8; João 1.18).
Cristo não é unicamente perfeito Deus, senão também perfeito homem, feito de mulher (Gálatas 4.4):
- Feito da semente de Davi (Romanos 1.3).
- Veio dos lombos de Davi (Atos 2.30).
- De Jessé e Judá (Atos 13.23).
- Assim como os filhos eram participantes de carne e sangue, Ele também tomou parte com eles (Hebreus 2.14).4
- Ele não tomou a natureza dos anjos, senão da semente de Abraão (versículo 16).
- Assim somos osso de seu osso e carne de sua carne (Efésios 5.30).
- E aquele que santifica e os que são santificados são um (Hebreus 2.11; veja também Hebreus 3.22; Deuteronômio 18.15; Hebreus 1.1).

XVII.
Quanto ao seu sacerdócio, Cristo, havendo se santificado, apareceu uma só vez para tirar o pecado, e por este ato terminou de sofrer todos os ritos e sombras, etc., e agora tem entrado por trás do véu, até no Lugar Santíssimo, donde está a presença de Deus.
Também fez de seu povo uma casa espiritual, um sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus por meio dele. E o Pai não aceita outros adoradores além destes e Cristo não lhe oferece outros.

XVIII.
Este sacerdócio não era temporário nem tampouco legal, senão segundo a ordem de Melquisedeque; e é estável e perfeito, não só por um tempo, senão para sempre. E vem a Cristo como a alguém que vive para sempre. Cristo foi ao mesmo tempo, sacerdote, sacrifício e altar. Era o sacerdote de acordo com as suas duas naturezas.
Era o sacrifício segundo a sua natureza humana, por isso este sacrifício está atribuído a seu corpo e sangue. Mas a efetividade deste sacrifício dependeu de sua natureza divina e por isso é chamado o sangue de Deus. Ele era o altar segundo sua natureza divina, sendo do altar a santificação de tudo o que é sacrificado sobre ele, e por isso teria que ser mais digno o altar do que o sacrifício mesmo.

XIX.
Quanto ao seu ofício real, Cristo, sendo ressuscitado dos mortos e ascendido ao céu, e tendo todo o poder no céu e na terra, tem governado espiritualmente a sua igreja e exerce poder sobre todos, anjos e homens, bons e maus, para a preservação e a salvação dos eleitos, superintendendo e destruindo seus inimigos. Por este poder real ele tem aplicado os benefícios, as virtudes e os frutos de sua profecia e sacerdócio a seus eleitos, subordinando os pecados deles, preservando e ajudando-lhes em todos seus conflitos contra Satanás, contra o mundo e contra a carne. Ele guarda seus corações na fé e no temor filial por seu Espírito. Por este, seu grande poder, tem reinado sobre os vasos de desonra, usando-os, limitando-os e restringindo-os, como lhe pareça bem a sua sabedoria infinita.

XX.
Este reino será plenamente aperfeiçoado quando Ele vier pela segunda vez com glória para reinar entre seus santos; e para ser admirado por todos os que creem; quando derrubará todo reino e autoridade e os porá sob seus pés; para que a glória do Pai possa ser plena e perfeitamente manifestada em Seu Filho, e a glória do Pai e do Filho
em todos seus membros.
XXI.
Cristo Jesus, por sua morte, produziu a salvação e a reconciliação somente para os eleitos; os quais são aqueles a quem Deus o Pai lhe deu. O evangelho que é pregado a todos os homens como a base da fé é: que Jesus é o Cristo, o Filho do sempre bendito Deus, pleno de toda perfeição das celestiais excelências espirituais; e que a salvação somente e unicamente pode ser obtida pela fé no seu nome.

XXII.
A fé é o dom de Deus, produzida nos corações dos eleitos pelo Espírito de Deus; por meio de quem chegam a ver, conhecer e crer na verdade das Escrituras, e as excelências dela por cima de toda outra escritura e coisas do mundo, porque manifestam a glória de Deus em seus atributos, a excelência de Cristo em sua natureza e em seus ofícios, e o poder da plenitude do Espírito em suas obras e operações; e assim podem descansar suas almas sobre a verdade que têm crido.

XXIII.
Os que têm a fé produzida neles, pelo Espírito, nunca podem totalmente cair; e ainda  que muitas tormentas e inundações lhes fustiguem, não podem ser removidos daquele alicerce e rocha sobre o qual são estabelecidos; ou melhor, serão guardados pelo poder de Deus para a salvação; donde gozarão da possessão que para eles foi comprada, estando seus nomes gravados nas palmas das mãos do próprio Deus.

XXIV.
Esta fé normalmente é engendrada pela pregação do Evangelho, a palavra de Cristo, sem considerar nenhum poder ou capacidade do ouvinte, o qual está totalmente passivo e morto em delitos e transgressões. Assim, ele crê e está convertido pelo mesmo poder que levantou a Cristo dentre os mortos.

XXV.
A apresentação do Evangelho para a conversão dos pecadores é absolutamente de graça, não requer como algo necessário nenhuma antecipada qualidade ou preparação. Os terrores da Lei, ou um ministério da Lei não é necessário, senão para uma alma desnuda, como pecador e sem Deus; para receber a Cristo, como Cristo, como crucificado, morto, sepultado e ressuscitado, sendo feito um Príncipe e Salvador para os pecadores.

XXVI.
O mesmo poder que converte para a fé em Cristo é o mesmo poder que ajuda a alma diante de todas as responsabilidades, tentações, conflitos e sofrimentos. Todo aquele que é um Cristão, é pela Graça e pela constante operação renovadora de Deus, sem a qual nunca poderia cumprir nenhuma incumbência para Deus ou resistir a nenhuma tentação de Satanás, do mundo e do homem.

XXVII.
Deus Pai, e o Filho e o Espírito, é um com todos os crentes, em sua plenitude, em suas relações, como cabeça e membros, como uma casa e seus moradores, como marido e esposa, um com Ele, como a luz e o amor, e um com Ele em sua herança e em toda a sua Glória. São filhos adotados por Deus, e herdeiros de Cristo, co-herdeiros com Ele da herança de todas as promessas nesta vida e na que está por vir.

XXVIII.
Os que são unidos com Cristo são justificados pelo sangue de Cristo, de todos os seus pecados, os do passado, os do presente e os que ainda estão por vir. Compreendemos que esta justificação é o perdão gratuito e livre dado por Deus, da culpabilidade de todo pecado. E que vem pela satisfação que Cristo fez com sua morte e aplicou ao pecador por meio da fé.

XXIX.
Todos os crentes compõem um povo santo e santificado. Sua santificação é um dom do Novo Pacto e do efeito do amor de Deus manifestado na alma. Por este dom o crente está separado, em verdade e em realidade, tanto em sua alma como em seu corpo, de todo pecado e obras mortas, pelo sangue do Pacto Eterno, pelo qual obedece com perfeição evangélica e celestial a todos os mandamentos que Cristo, como Cabeça e Rei deste Novo Pacto, tem-lhe imposto.

XXX.
Todos os crentes, pelo conhecimento da vida que é dada pelo Pai e que procedeu do sangue de Cristo, têm como um grande privilégio do Novo Pacto, paz com Deus e reconciliação. Assim eles, que estavam fora, são incluídos dentro, por aquele sangue e têm uma paz que está além de toda compreensão. Sim, e alegria em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por quem temos recebido a propiciação.

XXXI.
Todos os crentes durante esta vida se encontram numa guerra contínua, opondo-se ao pecado, a si mesmos, ao mundo e ao diabo; e estão expostos a toda classe de aflições, tribulações e perseguições e assim estarão até que Cristo venha em seu Reino, sendo assim predestinados. Tudo que os santos desfrutam e possuem de Deus durante esta vida, é unicamente pela fé.

XXXII.
O único poder pelo qual seja possível para os santos enfrentar toda oposição e resistir as aflições, tentações, perseguições e provas, recebem-no de Jesus Cristo, o qual é o Capitão de sua salvação, sendo feito perfeito pelo sofrimento e quem tem colocado seu poder para ajudá-los em todas sus aflições e para sustentá-los sob as tentações e para salvaguardá-los por seu Poder para seu Reino Eterno.

XXXIII.
Cristo tem aqui na terra um Reino espiritual, que é a Igreja que ele adquiriu e redimiu para si, como uma herança particular. Esta Igreja, como nós a vemos, é uma companhia de santos visíveis, chamados e separados do mundo pela Palavra e o pelo Espírito de Deus, para a confissão visível da fé no Evangelho, sendo batizados pela fé e incorporados ao Senhor e unidos uns com os outros, por um acordo mútuo, na prática das Ordenanças estabelecidas por Cristo sua Cabeça e Rei.

XXXIV.
A esta Igreja Cristo fez suas promessas e a ela apresentou os sinais de seu Pacto, sua presença, amor, bênção e proteção. Aqui se encontram todas as fontes e mananciais de sua Graça celestial que continuamente fluem. Para a Igreja devem todos os homens vir, de toda classe, para confessarem a Cristo como seu Profeta, Sacerdote e Rei e para serem arrolados entre os servos da Casa, para estarem sob seu governo, e para viverem dentro do redil, dentro do jardim regado, para terem aqui comunhão com os santos, e para serem participantes da herança no Reino de Deus.

XXXV.
Todos os servos de Cristo são chamados para fora, a fim de apresentar seus corpos e almas e os dons que Deus lhes deu. Assim apresentados, eles se encontram em seu devido lugar, sendo entrelaçados e compactados segundo o funcionamento de cada um, para a edificação da Igreja em amor.

XXXVI.
A cada Igreja, Cristo da poder para seu bem-estar, para escolher para si pessoas para os ofícios de Pastor, Mestre, Presbítero e Diácono, os quais são os ofícios designados por Cristo em sua Palavra para a alimentação, governo e edificação de sua Igreja e não há nenhum outro ofício com autoridade.

XXXVII.
Os ministros antes mencionados, chamados pela Igreja onde administram, devem continuar em seu chamamento, segundo a ordenança de Deus e com diligência devem alimentar o rebanho de Cristo que lhes é encomendado, não por lucro, senão livremente.

XXXVIII.
O sustento dos oficiais acima mencionados deve ser livre e voluntário, não por uma lei imposta a Igreja, segundo é estabelecido por Cristo, que os que pregam o Evangelho devem viver também por ele.

XXXIX.
O batismo é uma ordenança do Novo Testamento, estabelecido por Cristo, para ser administrado sobre pessoas que professam fé, que são discípulos, os quais por sua confissão de fé devem ser batizados e depois participar da Ceia do Senhor.

XL.
A maneira de aplicar esta ordenança, segundo a Escritura, é por submergir o corpo inteiro sob a água. E sendo um sinal, tem que corresponder com o que ele significa, que é o seguinte: primeiro, o lavamento da alma inteira no sangue de Cristo; segundo, os benefícios comunicados aos santos pela morte, sepultamento e ressurreição de Cristo; terceiro, uma confirmação da fé, que assim como certamente o corpo está sepultado sob a água e se levanta outra vez, assim também os corpos dos santos se levantarão pelo poder de Cristo, no dia da ressurreição, para reinar com Cristo.

XLI.
As pessoas designadas por Cristo para administrar esta ordenança, segundo a Escritura, são os discípulos que pregam. Em nenhum lugar está associado com certa igreja, oficial ou pessoa extraordinariamente estabelecida. A comissão que inclui a administração desta ordenança é dada sem nenhuma outra consideração a menos que sejam discípulos.

XLII.
Cristo também deu a sua Igreja a autoridade de receber e excomungar a qualquer membro, e este poder é dado a cada congregação e não a uma pessoa em particular, seja membro ou oficial, senão para a totalidade da Igreja.

XLIII.
Cada membro em particular da Igreja, por mais excelente ou conhecedor que seja, deve ser sujeito à censura e o juízo de Cristo. A Igreja deve se movimentar contra um de seus membros com grande cuidado e caridade.

XLIV.
Cristo, para guardar sua Igreja na comunhão santa e ordenada, coloca a certos varões sobre a Igreja, os quais por seu ofício, devem governar, suportar, visitar, e cuidar. De modo semelhante, para o melhor cuidado de todas as igrejas, Cristo dá aos membros a autoridade e a responsabilidade de cuidar uns dos outros.

XLV.
Aos que Deus tem dado dons, estes sendo provados pela Igreja, podem e devem por ordem da congregação, profetizar, segundo a proporção da fé e ensinar publicamente a Palavra de Deus, para a edificação, exortação e consolo da Igreja.

XLVI.
Sendo corretamente unida, estabelecida e seguindo na comunhão cristã e na obediência ao Evangelho de Cristo, ninguém deve separar-se da Igreja porque nela há faltas ou corrupções. Estas coisas acontecem porque ela consiste de homens sujeitos a erros, e de haver divergências mesmo nas Igrejas verdadeiramente constituídas. Ao invés disso, eles devem procurar corrigir essas coisas.

XLVII.
Ainda que cada congregação seja diferente, e que tenha muitos corpos independentes, e que cada igreja seja compacta e como uma cidade em si mesma, todas as Igrejas devem andar pela mesma regra, e por todos os meios benéficos compartilhar conselhos e ajuda nos assuntos da Igreja, como membros de um só corpo com uma fé comum sob Cristo sua única cabeça.
XLVIII.
A autoridade civil é uma ordem de Deus, estabelecida por Deus para castigar aos malfeitores e para recompensar aos que fazem o bem. Quando ela faz as coisas legalmente, as pessoas devem se submeter a ela no Senhor. Devemos fazer orações e suplicas pelos reis e por todos os que estão em posição de autoridade, para que sob eles possamos viver uma vida calma e pacífica, com piedade e honestidade.

XLIX.
Cremos que as autoridades supremas deste reino são: o Rei e o Parlamento escolhido pelo reino, e que estamos obrigados a nos submeter a todas as leis civis que eles fizeram e tenham ordenado. Devemos defender às autoridades e todas as leis civis feitas por elas, com nosso ser e com nosso patrimônio, ainda que devamos sofrer, por razão de consciência, por não nos submeter às suas leis eclesiásticas com as quais  não estamos de acordo.

L.
Se Deus nos conceder uma misericórdia, a de mudar os corações das autoridades, para que nos protejam da opressão, maldade, moléstia e feridas, que por muito tempo sofríamos sob a tirania e opressão da hierarquia dos prelados. Agora Deus por sua misericórdia tem feito este presente Rei e o Parlamento maravilhosamente honrados, como instrumentos em sua mão, e tivemos um tempo para respirar. E isto é algo além de nossas esperanças e consideramos que devemos agradecer a Deus para sempre por isto.

LI.
E mesmo que as coisas mudem, nós devemos continuar na comunhão cristã, não abandonando nossa prática, senão andando em obediência a Cristo, na confissão e propagação da fé acima mencionada, ainda que seja no meio de provas e aflições, não considerando nossos bens, terras, esposas, filhos, pais, irmãos e até nossas vidas como de grande valor, para que possamos terminar nosso caminho com alegria, lembrando-nos sempre que devemos obedecer a Deus em lugar dos homens. Baseando-nos no mandamento, comissão e promessa de nosso Senhor e Mestre, Jesus Cristo, quem tem poder no céu e na terra, quem também prometeu que se guardássemos os mandamentos que ele nos deu, ele estaria conosco até o fim do mundo, e quando havermos terminado nossa carreira e tendo guardado a fé, Ele nos dará uma coroa de justiça que foi guardada para todos os que amam sua manifestação, o mesmo a quem temos que explicar a razão de nossas ações, porque não há nenhum homem que nos possa perdoar.

LII.
É um dever pagar a todo homem tudo o que lhe é divido, seja honra, conduta ou impostos. Nossas posses, bens e corpos devem ser submetidos ao poder civil no Senhor. Este deve ser reconhecido, reverenciado e obedecido com piedade. Não só porque ele nos pode castigar, senão pelo bem de nossa consciência. E finalmente, cada homem deve ser honrado e considerado como é apropriado, por razão de sua idade, estado social e condição.

LIII.
Desejamos dar a Deus o que é dele, e ao governo o que é do governo, e a todo homem o que lhe pertence, tratando de manter limpa a consciência, sem ofender a Deus ou ao homem. E se alguém tomar o que professamos como heresia, nós continuaremos a adorar o Deus de nossos Pais, crendo em todas as coisas que são escritas na Lei e nos Profetas e Apóstolos, e nossas almas aguardarão a destruição de toda heresia e opinião que não seja a de Cristo, permanecendo consistentes, irremovíveis, sempre abundando na obras do Senhor, sabendo que nossa ocupação não é vã no Senhor.

CONCLUSÃO
Queremos dar a Cristo o que é dele e a toda a autoridade legal o que lhe é merecido, e não dever nada a ninguém a não ser o amor; viver em tranquilidade e pacificamente, como é digno de um santo, esforçando-nos em tudo para manter uma boa consciência; e responder a todo homem como desejamos ser também respondidos. Nossa prática comprova que somos um povo inofensivo e calmo (não representamos perigo e nem causamos males à sociedade humana). Laboramos e trabalhamos com nossas mãos, para que ninguém nos acuse, senão que possamos dar ao que tem necessidade, tanto a inimigos como a amigos, levando em conta que é melhor dar do que receber. Reconhecemos que só conhecemos em parte, e que desconhecemos muitas coisas que queríamos e buscamos conhecer, e se alguém não nos compreende, devemos agradecer a Deus e a eles. Mas se alguém nos pedir qualquer coisa não ordenada por nosso Senhor Jesus Cristo, devemos suportar reprovações e torturas dos homens, e perder as comodidades físicas, e se for necessário, morreremos mil vezes, do que fazer qualquer coisa que vá contra nossa própria consciência. E se alguém chama heresia ao que dissemos, então juntamente com o Apóstolo reconhecemos que segundo aquilo que chamam de heresia, nós adoramos ao Deus de nossos Pais, eliminando toda verdadeira heresia, porque está em oposição a Cristo, e assim permanecemos firmes, irremovíveis, sempre abundando em obediência a Cristo, sabendo que nosso labor não será em vão no Senhor.